Temos mais motivos para lutar do que no 1972. Homenaxe popular a Moncho Reboiras

Setembro contou com aproximadamente 30.000 trabalhadores implicados e implicadas na parálise de toda a indústria de Vigo e bisbarra. Foram duas semanas de ações de guerrilha urbana, de assembleias clandestinas, de jornadas e jornadas de confronto com a polícia franquista e de solidariedade obreira e popular. 

Por Abraám Alonso / comisión Vigo, setembro de 1972. 50 aniversario

Olá, bom dia e muito obrigado por contar com a iniciativa Vigo Setembro do 72 para intervir neste ato.

Em primeiro lugar enviar uma forte aperta ao companheiro Guillermo Fontán que era a pessoa designada e mais ajeitada para falar-vos hoje pois ele viveu o 1972 em primeira pessoa. Problemas de saúde impediram-lhe estar aqui hoje mas lembrarei sempre aquela reunião na qual quase pedindo desculpas afirmava: têm mais motivos para lutar do que nós em 1972. Achava Guilhermo que não íamos partilhar a sua opinião e equivocou-se.

1972 foi um ano de importância vital para o movimento obreiro galego. Por esse motivo, um grupo de pessoas revolucionárias na sua maioria, decidimos homenagear o março ferrolán e o setembro viguês e o que é ainda mais importante: às pessoas e ideologias que foram motor daquelas lutas.

1972 conta com um 10 de Março que deu lugar ao dia da classe obreira galega. É por isso que os acontecimentos de Ferrol são mais conhecidos do que um setembro viguês que superou com muito o desafio que a classe obreira ferrolá enviara à direção da empresa BAZÁN e polo tanto também ao regime seis meses antes.

Setembro contou com aproximadamente 30.000 trabalhadores implicados e implicadas na parálise de toda a indústria de Vigo e bisbarra. Foram duas semanas de ações de guerrilha urbana, de assembleias clandestinas, de jornadas e jornadas de confronto com a polícia franquista e de solidariedade obreira e popular. Estas jornadas marcaram segundo muitas e muitos o fim dum franquismo que mudaria só as formas para se adaptar às exigências dos interesses capitalistas no contexto internacional. Foram mudanças formais para manter o essencial, o que é importante e vital para a burguesia: a exploração e submetimento da classe trabalhadora.

E nesse ano 1972 emerge também um outro ícone: a figura do nosso caro Moncho Reboiras. Nesse ano fazia já parte por méritos próprios do cúmio central da UPG. Uma UPG que após a entrada dum importante contingente proletário representava a unidade e retroalimentação das reivindicações nacionais e de classe. Demonstrou-se na praxe como essa unidade era importante para a luta e que se podia medrar atendendo a esses dois eixos.

Moncho foi mais um filho da classe trabalhadora que graças aos esforços dos seus progenitores e aos próprios conseguiria estudar e evitar assim os trabalhos mais duros. Perto de aqui, no negócio familiar Bar Noia entra em contacto com as lutas dum proletariado e a qual ficará vincado para sempre. A sua sensibilidade para com as e os oprimidos é clara. Como prova temos o seguinte poema de julho de 1973 da sua autoria, assinado sob o pseudónimo de Ken Sabe:

Quando os fortes te assovalhem
e te bailem ao seu som
quando estejas aldrajado
fai-te um homem e berra nom!
 
Quando vejas os “bons homens”
roubando pior que ladrons,
quando vejas a injustiça,
fai-te um homem e berra nom!
 
Enquanto vejas semelhantes
trabalhar de sol a sol
fazendo os ricos mais ricos
fai-te ouvir e berra nom!
 
Mentres haja cobiçosos
que assovalhem por ter dom,
enquanto haja que ajoelhar-se
fai-te ouvir e berra nom!
 
Enquanto vejas homens rindo
por dentro chorar com a dor,
à sociedade em que vives
berra-lhe, di-lhe que NOM!

Na biografia que elaborara e distribuíra o MCB no 2009 para dar a conhecer a figura deste revolucionário na América de Bolívar e o Che, recolhe-se o seguinte fragmento que da uma ideia do tipo de militante que era Moncho:

Moncho estava num panfleto, numha pintada, numha assembleia obreira, numha reuniom cultural, de estudantes, de labregos, num encontro clandestino, no assalto a um banco, na expropriaçom dumha multicopista, na redaçom dum documento, num debate estratégico, ensinando e formando jovens militantes, transportando propaganda, editando um vozeiro, lançando pedras à polícia, elaborando um cóctel-molotov, fugindo da perseguiçom, viajando no seu Seat 600 polas estradas e caminhos da Galiza… na mais simples e na mais complexa tarefa dum militante comunista.

Sabemos por exemplo dum episódio concreto de participação de Moncho no setembro viguês do 72 quando foi ele o encarregado de facilitar uma multicopista aos camaradas da OO.

Embora se calhar não seja competência dum ato destas características, a 50 anos do setembro de 72 e a 47 do assassinato de Reboiras cumpre perguntar-nos:

  • Que foi daquela entrega e compromisso que atesouravam pessoas como Moncho e os seus camaradas?

  • Que foi da combatividade dos gérmolos do sindicalismo nacional e de classe?

  • Não nascem já pessoas como aquelas que promoveram e participaram do setembro do 72 e que posteriormente nutririam de militantes organizações revolucionárias e combatentes?

Na minha opinião, o povo trabalhador galego e a classe obreira em geral seguem a parir mulheres e homens dessas características. As sementes estão aí, por toda parte. O que falta hoje é a organização na qual essas sementes floreçam novamente. Sementes que construirão o movimento de resistência e contra- ataque e que serão parafraseando parcialmente a Moncho, “… semente de vencer”.

As organizações sindicais estão noqueadas, sem capacidade de resposta nem incidência numa realidade que nos devora. Noqueadas, quando não cooptadas pela burguesia. Algumas centrais não são só cúmplices da nossa situação: as suas cúpulas fazem parte já das fileiras do inimigo. A sua renúncia a outros modelos económicos, sociais, políticos… provocaram o desnorte absoluto no qual se acham. A sua prioridade quando não fim último, é a supervivência dos seus aparelhos burocráticos que contam com uns interesses próprios e diferenciados dos da classe obreira.

Não corresponde a uma iniciativa como Vigo Setembro do 1972 entrar a avaliar esta situação, ou se calhar sim. Esta iniciativa está conformada principalmente por pessoas enquadradas em chaves revolucionárias e é um dever aproveitar cada possibilidade para denunciar que o que temos em 2022 é a continuidade da ditadura que se iniciara no 1939.

Para rematar, recolho novamente as palavras do companheiro Guillermo Fontán: Tedes (temos) mais motivos para lutar do que no 1972. Imos!

Muito obrigado

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