Os meios estão em mãos privadas na sua maioria e por tanto isso quer dizer algo. Vox tem a sua disposição toda a publicidade que necessita e por tanto o facto de fazer-lhes fronte ainda condenado pela falsimedia, contribui para dar-nos publicidade a nós, ao antifascismo.
Por Angelo Nero
Na vossa apresentaçom perante o povo, em julho de 2021, diziades: “Somos um grupo de pessoas do Condado unidas pola preocupaçom perante o avanço do fascismo. Avanço que conta com a cumplicidade evidente de meios de comunicaçom, judicatura, instituçonns… e que é a aposta do capital para someter-nos ainda mais perante a atual e futuras crises. É por isto que decidimos organizar-nos para denunciar e combater esta perigosa realidade.” ¿Em que se traduz essa ameaça fascista no Condado, e que resposta atopastes perante o vosso chamado?
O Condado conta com uma tradição fascista similar a do resto do país, fruto da barbárie de 1936 e de fazer-se com o controlo da Galiza a sangue e lume num período muito curto. Na Galiza segundo afirmam os estudos realizados quase não houve confronto militar entre os dois bandos. A data na que se começa com um extermínio físico planificado é o 20 de julho. A resistência foi esmagada com brutalidade e terror extremos ficando Galiza demasiado cedo em mãos do bando fascista. O que ficam são nostálgicos, filhos e netos da sociedade cinzenta que podem reativar-se ou influir para estimular nos seus círculos de influência o apoio a Vox. A resposta que topamos à nossa constituição foi a do reencontro de “velhos e velhas” ativistas e a confluência com companheiras e companheiros que militaram em distintas organizações do Condado assim como novas incorporações.
Coincidindo com o aniversário do golpe de estado de 36, organizastes as primeiras Jornadas Antifascistas do Condado, na que participou Iñaki Gil de San Vicente, ¿Que valoraçom fazedes desta primeira jornada, tanto de conteúdos como de resposta popular?
Foi um 18 de julho a jornada com o Iñaki. Valorizamos muito positivamente a atividade. Em quanto a conteúdos pois imagina, é Iñaki Gil de San Vicente, um grande e reconhecido teórico e militante marxista. Em quanto a assistência também muito bem, foi uma calorosa tarde de verão que convidava também ao rio ou à praia, mas lá se concentrou um bom número de pessoas interessadas em conhecer mais a respeito do que é o fascismo.
Tambén na vossa apresentaçom assinalastes que “trabalhamos tambén outras problemáticas como as de classe, género, racial, LGTBI, ecológica e de todo tipo de opressom e discriminaçom”. Ao pouco foi o assasinato homófobo de Samuel Luiz em A Corunha, e aparecérom pintadas contra o coletivo LGTBI em Salvaterra. ¿ É a homofobia outra das caras do fascismo que cumpre denunciar e combater?
Sem dúvida. O fascismo de “corte clássico” procura uma classe trabalhadora obediente, submissa e disciplinada em quanto a essa obediência, e a trabalhar e não protestar. Pela tradição católica do reino de Espanha e do franquismo, essa ideologia está no ADN do fascismo espanhol. A família é uma, monoparental e heterossexual. Todo o que saia de ai é condenável, perseguível e reprimível. Também é certo que Vox sabe empregar a sensibilidade social atingida para com os direitos do coletivo LGTBI como direitos humanos, para sair nos meios a conta da polémica assegurada que conlevam as súas declarações. Cumpre denunciar e combater a homofobia em qualquer das suas formas, mas a emanada das fileiras do fascismo ainda mais porque aspira a ser estrutural e a legislar para perpetuá-la. O fascismo de “corte clássico” é em branco e preto. O fascismo contemporâneo é outra coisa mais tolerante nas formas mas igual de controlador e explorador da força de trabalho, dos povos, das mulheres… Essa exploração é a mão que se topa por trás de quase toda opressão. Pode existir um modelo fascista em quanto à organização social e tolerante com a liberdade sexual e escolha sexo-afetiva de cada quem. O fascismo de Vox representa a oligarquia espanhola mais terrorista, e está aqui para ficar. O seu objetivo principal não é reprimir a orientação sexual; é uma vacina subministrada à sociedade espanhola para fazer de corta lumes ante as previsíveis lutas que provocará a gestão capitalista no contexto atual.
Outra das vossas açons mais mediáticas fôrom os protestos contra a instalaçom de mesas informativas de VOX em Ponte Areias, nas que artelhastes umha brigada de desinfeçom para para limpar a praça depois de que fora ocupada polos de Abascal, e mesmo levastedes un carro de esterco como presente. ¿Este tipo de açons que sentimentos gerárom entre o povo, houvo muita gente que se achegou a vós?
Demos que falar sim. A primeira resposta à presença de Vox em Ponte Areias foi sem dúvida a de mais sucesso. Congregamo-nos por volta de oitenta pessoas de jeito permanente ante o seu posto e recebemos muitos mais apoios do que críticas. Respostar presencialmente à presença da formação verde abre o debate a nível popular de se contribuímos a lhe dar publicidade e de se caímos nalguma das suas provocações caímos na sua trampa pois procuram também a sua vitimização. Algo de verdade há nestas afirmações mas para nós pesam mais outras questões: A primeira é que Vox foi uma força apoiada e promovida mediaticamente. Os meios estão em mãos privadas na sua maioria e por tanto isso quer dizer algo. Vox tem a sua disposição toda a publicidade que necessita e por tanto o facto de fazer-lhes fronte ainda condenado pela falsimedia, contribui para dar-nos publicidade a nós, ao antifascismo.
A segunda é que em povos e localidades pequenas onde nos conhecemos todas e todos como se acostuma dizer, marcar aos fascistas, fazer incómoda a sua presença na rua, fazer que quem se achegue à mesa a manifestar apoio ou a amostrar interesse o faça sob os olhares de vizinhança antifascista, contribui para afastar a gente duma força que não é tolerada por parte da sociedade e que o explicita na rua. Há que dizer que não contam com núcleos militantes nas localidades do Condado e o que fazem e mover aos mesmos com a mesa a um lugar e outro. Estar na rua contra Vox é uma intervenção antifascista preventiva contra o seu avanço e também de denúncia.
Sem dúvida, o ato mais salientável na andadura do vosso coletivo foi a Homenagem às Vítimas do fascismo, em Mondariz, na que se reivindicava a memória de seis vizinhos assasinados o quatro de outubro de 36, com a instalaçom dum monolito no lugar onde fòrom assasinados, e que contou com a presença doutros colectivos como Vigo Antifascista ou o Comité Antifascista da Lourinha, mais também com umha nutrida presença institucional, com os alcaides de Mondariz, Tui e a alcaidesa de Tominho, assim como os deputados Luís Bará e Mini Rivas, e com as famílias dos repressaliados. ¿Como xurdiu esta iniciativa e com que meios e apoios contou Condado Antifascista para levá-lo adiante?
Os factos foram colocados em conhecimento do coletivo por parte dum companheiro de Mondariz com a proposta de realizar uma homenagem e resgatar do esquecimento o acontecido. Em muito pouco tempo demos feito um ato como esse, do qual faremos público em breve um trabalho audiovisual que recolhe a atividade. O trabalho militante foi fundamental para sacar a adiante a homenagem. A colaboração institucional possibilitou realizar um ato muito digno em pouco tempo e a baixo custo económico para nós, pois o concelho de Mondariz sufragou a pedra na que se recolhem os nomes dos fuzilados. Os de Tominho e Tui comprometeram-se a colaborar com apartações económicas para a edição duma reportagem fotográfica, também a ponto de sair. Agradecimentos especiais merecem os músicos e a música que nos acompanharam e deram ao ato o caráter solene que entendemos que a ocasião merecia.
“De nada serve recuperar a memória e maquilhar o acontecido. Os objectivos principais do genocídio perpetuado fôrom pessoas destacadas polo seu compromisso militante. Desde as fileiras do anarquismo, do comunismo, do republicanismo liberal ou socialista, desde o agrarismo, e o galeguismo, desde o nacionalismo galego, luitavan pola transformaçom dunha sociedade injusta que é à que nos somete o modo de produçom e organizaçom capitalistas.” Assim falavades no Manifesto que se leu na Homenagem de Mondariz, ¿Realmente é preciso umha memória militante, coletiva, além da memória das famílias, para combater esse novo fascismo que já está nas nossas ruas, ou o Antifascismo precisa de novas ferramentas, e o que tem é que olhar para o futuro? E, além disso, ¿Há também um chamado anticapitalista e de esquerdas, para luitar contra estas novas manifestaçons da ultradireita?
Nós temos claro que é necessária uma memória visada para a ação, uma memória viva, ativa e ativista. É normal e natural que exista uma memória de caráter mais familiar e que procure topar os seus familiares e a reparação do dano e custes provocados. A memória institucional, a que fala desde um “presente de democracia e liberdades” serve para apontalar um presente que é fruto da mudança formal e estética que o regime emanado do 1936 decidiu levar a cabo para perpetuar os seus privilégios, adaptando-se à conjuntura internacional. A entrada na OTAN e na UE colidia com a negativa dos setores do franquismo mais ultras e conservadores. A transição foi o mantimento que a maquinaria franquista necessitava para que a burguesia como classe mantivesse o seu controlo. Monarquia franquista, economia de mercado… a ditadura do capital está mais forte hoje do que na II República espanhola, e isto é porque foi derrocada pelas armas com o extermínio das mais comprometidas e comprometidos com a causa da liberdade. Não podemos contribuir para reforçar o discurso de que estamos nalgo mais avançado do que o que tínhamos, porque a ditadura não era nossa, era contra nós.
Há um par de anos, a partir do manifesto “Contra o fascismo, nem un passo atrás”, se foi artelhando umha Plataforma Antifascista Galega, para erguer umha resposta conjunta em base a um plano de açom de sete pontos que, desde entom, leva somando coletivos e campanhas conjuntas. ¿Tem no seu horizonte o Condado Antifascista somar-se a esta Plataforma, ou já se tem somado a algumha das suas iniciativas?
Vimos de incorporar-nos recentemente a esta plataforma. Aguardamos se somem na maior brevidade possível outros coletivos antifascistas e que a plataforma serva de ponto de encontro e intercambio de informação, de colaboração e de desenvolvimento de atividades conjuntas. A unidade faz a força e isto é assim porque supõe a coordenação de muitas e muitos a remar numa mesma direção. Quantos mais braços, mais imparável será o nosso barco.
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