A mui poucos quilómetros de aqui, na retaguarda de Castro Laboreiro, refugiados republicanos organizárom umha das primeiras guerrilhas antifascistas da Galiza.
Por Carlos Morais
Torreiro da festa da capela da Sobreira, Ferreiros / Val do Límia, 28 de agosto de 2022
Por quarto ano consecutivo, o antifascismo organizado no Val do Límia, honramos a quem a narrativa franquista tentou condenar ao esquecimento, à geraçom dos nossos avós e bisavós, quem padecérom nas suas carnes a brutalidade do golpe fascista do verao de 1936.
Levamos quatro anos consecutivos quebrando a amnésia imposta polos vencedores, e perpetuada pola narrativa da falsa equidistância do pósfranquismo.
Transformamos a curva de Fontaboa, a ponte do Boado, o Poço do Inferno, de lugar da infâmia a espaço da memória antifascista.
Hoje, novamente estamos onde temos que estar!
Fomos coletivamente convocados neste belo lugar de Ferreiros, à beira da capela da Sobreira e do seu cruzeiro, com o frontispício das serras de Santa Eufêmia, Amarela e o Quinjo nas nossas costas, para repararmos, honrarmos, dignificarmos, reivindicarmos e reinstaurarmos a verdade e a luz, sobre as falácias e as trevas.
Ferreiros nom só destaca por ser umha das aldeias mais ocidentais do Val do Límia, Ferreiros destaca por ter sido na década dos anos trinta umha aldeia comprometida.
Umha boa parte dos seus vizinhos e vizinhas somarom-se à onda vermelha que dixo basta a séculos de opressom e dominaçom.
Umha aldeia que soubo da importância da auto-organizaçom popular, participando ativamente no sindicalismo campesinho e na luita sociopolítica para transformar o presente.
O Ferreiros vermelho e republicano, o Ferreiros bravo e solidário, foi um referente. Aqui viviam três das 14 vítimas do fascismo nas Terras de Entrimo.
Com este monólito que hoje inauguramos rendemos tributo a Erundina Álvarez Pérez, a única mulher fusilada na província de Ourense, a Gumersindo Araújo Sousa Requicho e a José Fernández González Rizo.
O Comité pola Memória Histórica do Val do Límia novamente chanta no sulocidente da Gallaecia central, umha pedrafita. Monólito de granito país gram fino de Trasalba, lavrado polo nosso admirado mestre canteiro Diego Currás, para perpetuarmos a memória coletiva dos falecidos por defender os direitos e as liberdades do povo trabalhador e empobrecido.
A mui poucos quilómetros de aqui, na retaguarda de Castro Laboreiro, refugiados republicanos organizárom umha das primeiras guerrilhas antifascistas da Galiza.
Comandados polo mítico dirigente comunista Manolo dente d´ouro, também conhecido como Brasileiro -tal como bem tenhem estudado os companheiros Ramón Alonso e Américo Rodrigues, articulárom a resistência armada contra o fascismo.
Nas proximidades de onde nos encontramos, a finais de agosto de 1943, na carvalheira da Tapada da Pedra, à beira do monte Gurita, perto de Pereira, faleceu desangrado José Rodríguez Páramo.
Pepe dente d´ouro ou Secretário, tal como popularmente era conhecido, tinha sido ferido de gravidade em Torneiros de Rio Caldo, após umha operaçom de expropriaçom num dos mais importantes comércios da burguesia colaboracionista.
Eis polo que este lugar nom foi escolhido ao azar. A icónica capela da Sobreira, baixo a sombra e proteçom deste magnífico exemplar de carvalho, lugar de culto, veneraçom e festa durante séculos, passa a ser um dos espaços da memória antifascista galega.
No monumento que brevemente inauguraremos solenemente, estám gravados para eternidade os nomes do Requicho, da Erundina, do Rizo e do Secretário, mas também os de três vizinhos de Ourense, Roberto Blanco Torres, Eulogio Vázquez Gómez e José Villamarín Iglesias, mais conhecido como Rizal, vilmente executados 2 de outubro de 1936, na corga da Videira, no quilómetro 67 da antiga N-540.
Mas também o dos dous entrimeiros executados polos nazis nos campos de concentraçom de Mauthausen e Gusen: Avelino Pérez Rodríguez e Abilio Álvarez Bernardo.
Benigno Rodríguez Antúnez, Arturo Sousa González, Manuel Costa Rodríguez Cantarejo, Constantino de Castro Rodríguez, vizinhos de Galez, Casal e Terrachám respeitivamente, com o José de Ribadávia, completam a listagem dos 14 camaradas que hoje aqui honramos.
Para todos eles nem um só minuto de silêncio, toda umha vida de combate. Honra e glória!
Fazémo-lo sem complexos, sem maquilhagens, sem falsas e hipócritas equidistâncias.
Fazémo-lo desde a memória histórica antifascista, adjetivo imprescindível, para dar-lhe sentido a nossa tarefa.
Porque também devemos clarificar conceitos no campo memorialístico galego: na Galiza nom houvo guerra civil, houvo um genocídio bem planificado e executado que provocou milhares de vítimas. Nove décadas após ter começado ainda nom sabemos o volume aproximado do genocídio galego.
O seu início nom foi 18 de julho de 1936 como erroneamente teima em datar a historiografia académica.
O golpe fascista na Galiza inícia 20 de julho, razom pola qual o antifascismo galego corretamente o transformou numha jornada reivindicativa: no Dia do Genocídio Galego.
Como nom aceitamos a desmemória imposta polo Regime do 78, nem o medo inoculado, que só procurava, e procura, que um manto de esquecimento e silêncio agoche tanto crime, tanta crueldade e tanto roubo de bens e propriedades, nom podemos manifestar a nossa satisfaçom e apoio a anunciada nova lei da “memória histórica democrática”. Divulgada a “bombo e platilho”, nom cubre as expetativas nem as nossas reivindicaçons. Nom passa de descafeinadas intençons que nom se vam implementar.
* * *
Esta homenagem nom teria sido possível realizá-la sem a colaboraçom de muita gente, em primeiro lugar os companheiros e companheiras do CMHVL, com destaque para a Íria Moreiras, Davide Pérez e Inés Rodríguez.
Mas também os trabalhadores do Concelho de Entrimo, sempre dispostos a colaborar com as tarefas de investigaçom prévias. Felisa González Movilla, Juan Carlos Rodríguez Domínguez Lupi, María Isabel Estévez, Jorge Bastos, Faustino Pérez Estévez, mil obrigados.
Nesta ocasiom, frente a frialdade, desinteresse e boas palavras sem materializaçom algumha das autoridades municipais das anteriores três homenagens, devemos agradecer ao Concelho de Entrimo e ao seu alcaide Ramón Alonso, a sua colaboraçom ativa e tangível.
E por suposto a Associaçom de Vizinhos de Ferreiros, especialmente a sua diretiva, por permitir instalar este monumento e organizar neste torreiro da festa a homenagem. Obrigado Alicia Rodríguez Domínguez!
Ao Cristian Oliveira Brito por conhecer o incalculável valor de custodiar o passado de Entrimo, concretamente o seu arquivo municipal, contribuindo a resgatar do anonimato aos que padecérom a dor e o sofrimento do fascismo.
O ano passado manifestamos que nom cessaremos até lograrmos a plena restituiçom da dignidade, verdade e reparaçom de todas as vítimas. Até lograrmos o seu reconhecimento e reabilitaçom, até organizarmos o desagravo a tantas décadas de esquecimento imposto polo franquismo e polo pósfranquismo. Voltamos reafirmar que nom pararemos até conseguí-lo!
Nom queremos finalizar sem voltar a alertar do rearme ideológico, do lavado de cara e normalizaçom do fascismo no nosso país, promovido pola fraçom mais terrorista do Ibex 35, dessa voraz oligarquia que acumulou obscenas fortunas durante os 40 anos de franquismo e pósfranquismo, que atualmente promove e financia, com finalidade preventiva e dissuassória, o terrorismo político do partido de Abascal.
A ameaça continua por muito que restringidas e parciais leituras demoscópicas digam o contrário. É umha ameaça global. A derrota infringida polo Exército soviético ao nazifascismo em abril de 1945, nom significou que a hidra tivesse sido erradicada. Os acontecimentos em curso no leste da Europa constatam como o nazismo é umha realidade tangível que ameaça o nosso futuro.
Para vencé-lo há primeiro que deslindar como o pensamento único e as leituras manipuladas que nos imponhem os meios de [des]informaçom sobre o que realmente passa na Ucrânia.
E feito este exercício de leitura crítica e portanto rigorosa da realidade, cumpre tecer unidade, unidade e unidade antifascista para fazer frente com eficácia ao populismo e demagógia que justifica o novo agromar da besta.
Nom podemos resignar-nos, nom podemos deixar-nos arrastar polo conformismo paralisante. Temos que pará-lo e extirpá-lo! E a tarefa mais importante nesta conjuntura histórica.
Viva Entrimo antifascista!
Viva o Val do Límia antifascista!
Viva a Galiza antifascista!
Nom passarám!
Se el primero en comentar