Como é que poderemos fazer-nos valer aqui e agora? Até onde queremos chegar com essa vontade de fazer-nos valer? De onde poderemos tirar as forças suficientes para isso? Daremos construído uma contra com capacidade de ser tal? Daremos construído um contrapoder?
Por Abraám Alonso Pinheiro
Assisti à entrevista em formato vídeo que o portal Galiza Livre fixo ao Francisco Rodríguez a respeito dum recente trabalho seu da Galiza na idade média.
O primeiro que senti foi um bocado de vergonha por todo o meu desconhecimento da nossa história justificado em parte e só em parte por toda a manipulação que na entrevista se descreve e denúncia.
Mas ao tempo que decorria a mesma, na minha cabeça surdiam perguntas. Cada quem analisa a realidade desde o prisma no que foi formado, voluntaria ou involuntariamente e o meu está programado com umas coordenadas que falam de poder.
Atendendo a todo o poder que as elites das que fala Paco Rodríguez tinham, atendendo a esse glorioso passado negado e ocultado pela historiografia espanhola ao serviço do seu projeto nacional, quem vai fazer valer a verdade? Quem vai ser quem de devolver uma soberania que tivemos como povo nas terras que hoje ocupam a CAG e que foram maiores no passado?
Para mim aí reside o quid da questão. Evidentemente todo o descoberto e por descobrir tem interesse para nós e não só pelo direito a conhecer a verdade. O tem porque pode contribuir a transformar o auto-ódio de parte do nosso povo em autoestima. Porque parte daquelas e daqueles que passam por esta vida a acreditar em que somos uma pequena parte dum estado que partilha a península com outro mais pequeno, podem a raiz da descoberta dessa realidade interesseiramente oculta, transformar-se em pessoas críticas que duvidem de versões oficiais. É bom lembrar que se já podemos considerar avançadas aquelas pessoas que sabem da manipulação dos meios de massas, para boa parte destas o transmitido em escolas e universidades está a salvo de manipulações. Essas dúvidas poderiam extrapolar-se a outras questões para além da nossa história e se calhar moverem a apoiar ou participar de movimentos contrários ao status quo.
Mas voltando ao que nos interessa a independentistas, comunistas, antissistema e todas aquelas pessoas que sabemos que o capitalismo é um cancro de metástase cada vez mais estendida. Como é que poderemos fazer-nos valer aqui e agora? Até onde queremos chegar com essa vontade de fazer-nos valer? De onde poderemos tirar as forças suficientes para isso? Daremos construído uma contra com capacidade de ser tal? Daremos construído um contrapoder?
Falava Paco Rodríguez na entrevista de que o arcebispo Gelmirez e Compostela tinham na altura um poder maior do que o Papa de Roma. Onde e como poderemos topar alguém com esse poder ao serviço por exemplo da causa da soberania da Galiza? Para mim a resposta está clara e urge cada vez mais a implementação de todo o que dela se extrai. A resposta é a classe obreira, a classe trabalhadora e dentro dela o proletariado principalmente. Na proclamação da I República Galega devera olhar o independentismo galego o exemplo mais evidentemente.
E porque? Pois porque nós somos e circunscrevendo-nos só às sociedades ocidentais, aqueles e aquelas a quem o sistema colocou numa situação mais desumanizada e objetivamente por tanta quem mais interesse devera ter na rebelião. Relegados e relegadas ao papel de ser apêndices de máquinas e massa consumidora daquilo que nós mesmas produzimos (prévio pagamento com o salário recebido). Seres irracionalizados a destruir um planeta que partilhamos com quem nos coloca nesses papeis com todos os mecanismos na sua mão, aperfeiçoados no desenvolvimento da sociedade de classes desde a sua posição de classe dominante.
Quando somemos esforços e contribuamos para fazer à classe trabalhadora estar ciente de ser um sujeito político em sim mesmo e de ter nas suas mãos um poder imenso (até os exércitos burgueses se nutrem das filhas e dos filhos da nossa classe), poderá ser ressarcida a história da nossa nação dos agravos cometidos. Quem nos quer limitar a simples eleitorado e nos «educa» em transitar o caminho da vitória parlamentar como único caminho, é cúmplice do inimigo e contribui a reforçar um sistema que é a principal causa de todos os males que padecemos como espécie. É obrigatório dizer que o próprio Paco Rodríguez contribuiu muito a isso.
Somos nós, esses filhos e filhas da classe obreira as únicas que acovilhamos todo o potencial necessário para abordar com sucesso as batalhas necessárias. Na luta pela nossa libertação como classe oprimida e na derrota e abolição da burguesia como classe e do capitalismo como sistema económico e político, agacha-se todo o potencial que permitirá apagar os reatores burgueses até a sua inutilização e eliminação. Necessitamos atenção e formação planificada para essa tarefa e não sermos utilizados para lutas parciais que não abordam o problema em toda a sua magnitude e inter-relações com as realidades locais, comarcais, nacionais e internacionais.
A alguns pode soar-lhe isto a demasiado vermelho e a coisas do passado, mas o facto de os seus criadores ter elevado a análise marxista a ciência provoca que o cerne da sua teoria continue ainda vigente e não refutada nem superada. Aí está a bússola que nos marca o norte. Não nos diz o que toparemos ao chegar mas marca com claridade o caminho. Tal e como anunciaram eles, será a classe trabalhadora quem no processo da sua libertação como classe, libertará à humanidade inteira: aos povos, às raças, aos géneros, aos sexos, às sexualidades, à natureza…
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