Intervençom de Carlos Morais na Homenagem ás vítimas do fascismo na curva de Fontaboa

Rego do Caunho, ponto quilométrico 2.250 da OU-1201, ente Xordos e Nigueiroá, Val do Límia, 22 de setembro de 2024.

Por Carlos Morais | 23/09/2024

Voltamos a ser convocados aqui, à beira do rego do Caunho, no lugar onde fôrom executados os dous primeiros antifascistas polas sanguinárias bandas falangistas de Bande.
Juan Manuel Álvarez Álvarez, conhecido como o ‘Noches’, labrego de 62 anos e dirigente do Sindicato Campesinho de Nigueiroá, foi a primeira vítima do falangismo na comarca. Foi 29 de julho de 1936.
Ao dia seguinte, neste mesmo lugar, foi executado o padeiro de Mexide. Chamava-se Jenaro Alonso Santos e tam só tinha 28 anos.
A curva de Fontaboa desde há cinco anos passou de ser um lugar da infámia a um lugar da memória. Graças ao acionar do Comité pola Memória Histórica do Val do Límia transformou-se no ponto zero da recuperaçom do passado, da dignificaçom das vidas segadas polo terrorismo falangista na nossa naçom querquenna.
Hoje, fomos novamente convocados aqui, porque desde que em setembro de 2019 foi chantado o imponente monólito, logramos identificar mais 22 vítimas do franquismo.
Vinte e um homes e umha mulher, que em 2019 nom tinhamos constância de que tinham sido executados.
11 fôrom literalmente “passeados”, 4 falecérom vítimas dos maos tratos e torturas, 3 fusilados, 3 falecérom polas feridas provocadas em combate e 1 foi executado a garrote vil.
 
As investigaçons realizadas em arquivos, hemerotecas e bibliotecas, e a colaboraçom de familiares e vizinhança, tenhem permitido localizá-los. E após verificar que fôrom vítimas do franquismo, logo de procurar toda a informaçom possível -umha tarefa sempre permanente e inconclusa-, era necessário gravar os seus nomes sobre o granito querquenno num novo menir antifascista. E já vam seis!
Umha parte deles já fôrom homenageados nas ediçons anteriores.
Os nomes de José García MoránJosé Romualdo Iglesias e Ramón Padrón Pardo, executados 4 de agosto de 1936 no poço do inferno, também o de Santiago Álvarez Adán, membro da Corporaçom Municipal de Lobeira, falecido nesse verao no exílio em Tourém, a causa das feridas provocadas quando escapava do sicariato falangista no que foi a segunda tentativa de detençom, estám no monólito instalado 8 de agosto de 2021 nas proximidades do cruzamento entre a N-540 e a OU-161.
Nesse mesma pedrafita está Nicanor Rodríguez Álvarez, o carpinteiro-ebanista de Gaiás, primeiro Tenente de Alcalde da Lobeira frentepopulista.
O mesmo acontece com o jovem labrego e dirigente do Sindicato Campesinho de Facós, Liborio Rodríguez Salgado, que faleceu no seu domicílio 22 de dezembro de 1937, após ser lançado polos falangistas nas gélidas águas da poça da Madanela.
E da única mulher que hoje voltamos a lembrar: Gerarda Rodríguez Araújo, labrega de 30 anos, natural de Parada do Monte e vizinha de Senderiz, lançada a umha poça de água logo de ser aldrajada, malhada e violada polos falangistas.
Roberto Blanco TorresEulogio Vázquez Gómez e José Villamarín Iglesias, popularmente conhecido como ‘Rizal’, executados na corga da Videira 2 de outubro de 1936, mais o cabo de Carabineiros de 28 anos, natural da Terrachám, chamado Constante de Castro Rodríguez, fusilado na Catalunha em janeiro de 1940, estám no monólito de Ferreiros.
Neste memorial também está o nome de José Rodríguez Páramo, jornaleiro conhecido como ‘Secretário’ ou ‘Pepe dente d´ouro’, um dos principais dirigentes da primeira experiência guerrilheira que combateu com as armas a ditadura franquista. Faleceu desangrado no monte da Gurita, perto da Pereira a consequência das graves feridas de bala provocadas num operativo de expropriaçom que tivera lugar em Torneiros. Foi 26 de agosto de 1943.
Mas os outros 10 é a primeira vez que os seus nome ficarám gravados para a posteridade.
Do Pepe de Ribadávia pouco sabemos, salvo que foi abatido 27 de julho de 1937 no lugar de Chuqueiros, nas proximidades de Ferreiros, numha emboscada combinada de falangistas, Carabineiros e Guardas Civis.
De Benito Feijoó Fernández, natural do Outeiro, aqui em Nigueiroá, só sabemos que foi executado no Furriolo. Mas ainda nom logramos saber quando.
De José Bernardo Paz, carpinteiro de 32 anos, natural de Rio Caldo, foi-lhe aplicada pola Guarda Civil a “lei de fugas”. Foi no Cruzeiro, 29 de agosto de 1943.
Claudio Pousa Marquês, conhecido como o ‘Jovem’ e Valentín García Sánchez ‘Morringa’, falecérom a causa das feridas de combate.
Gabriel Hernández González, com nome de guerra ‘Barbeiro’, e Saturnino Darriba González, todos eles membros da insurgência comunista dirigida polo legendário Víctor García García ‘Brasileiro’, fôrom fusilados no campo de Aragom do quartel de Sam Francisco de Ourense em outubro de 1941.
Ambos quatro tinham participado na frustrada expropriaçom contra o “Gran comércio dos de Parada” em Porto Quintela.
Mais alá de que fôrom enterrados no cemitério das Maus de Salas, na primavera de 1941, nada sabemos dos dous homes cujos cadáveres com ferida de bala aparecérom na chaira de Dornes, à beira do marco divisório das paróquais das Maus e Couso de Salas.
Finalmente queremos realizar umha mençom especial à última vítima identificada. Nascido no bairro da Moreira, no seio dumha das famílias mais humildes de Mugueimes, o Albino Gómez Rodríguez, foi executado a garrote vil 26 de janeiro de 1948 na Prisom Provincial de Ourense após ser condenado a morte em Conselho de Guerra.
Para todos eles solicito umha cerrada ovaçom.
A partir de hoje som recuperados da amnésia imposta, som resgatados do esquecimento deliberadamente imposto por umha estratégia de silêncio que combinou medo e vergonha entre familiares e vizinhos.
Nom nos cansaremos de repetir que as 22 vítimas que hoje homenageamos, unidas às 25 que já estám gravadas em letras vermelhas no primeiro monólito da Fontaboa, em total 47, som a ponta de iceberg dumha brutal repressom exercida empregando as mais variadas formas de violência: requisas, malheiras, detençons, intimidaçons, ameaças, torturas, roubo de propriedades, humilhaçons, violaçons, ostracismo, anos de prisom, exílio, das que praticamente nengumha das famílas do Val do Límia lográrom evitar.
 
É praticamente impossível enumerar todos os que padecérom a brutalidade do fascismo. Mas sim cumpre, novamente hoje e aqui, lembrar os nomes dos que pagárom com a sua vida o seu compromisso com as causas sagradas da liberdade e a justiça social.
Honra e glória para todos eles! Nem um só minuto de silêncio, toda umha vida de combate. O nosso mais emotivo aplauso de reconhecimento!
*    *     *
Sem a colaboraçom de muitas pessoas que hoje nos acompanhades, da generosidade em forma de doaçons económicas, informaçom e ánimos para continuarmos, esta homenagem nom teria sido possível.
Mas também sem a poesia e a música, estas jornadas de homenagem nom teriam sido o que som: um espaço solene de emoçons, reivindicaçom, dignificaçom, verdade e reconhecimento. Eis polo que este ano quijemos ter novamente connosco o Claudio Rodríguez Fer, a Carmen Blanco, o Mini e o Xosé Constenla. Cinco anos depois os quatro seguem acompanhando-nos na denúncia da barbárie fascista e na recuperaçom plena da verdade que ainda teimam em ocultar, manipular e negar. Obrigado aos quatro!
No Comité pola Memória Histórica do Val do Límia nom concebimos as homenagens e a persistente tarefa de recuperaçom do nosso passado coletivo, como umha jornada nostálgica e ainda menos lacrimógena.
Fazemo-lo porque consideramos que é umha obriga moral, que temos umha dívida com a generaçom dos nossos avós e bisavós, porque nom nos conformamos nem nos resignamos a aceitar mansamente o relato dos vencedores.
Nom o fazemos desde a assépsia e a falsa equidistância, por inconfesáveis taticismos eleitoralistas, fazémo-lo desde umha indiscutível óptica antifascista e republicana.
Como umha imprescindível labor pedagógica para evitar que um novo 1936, que mais umha vez umha noite de pedra se instale a golpe de fake news, a consequência do pánico no que estám instaladas as elites globalistas perante a crise estrutural do modelo de dominaçom imposto polo imperialismo após a Segunda Guerra Mundial, e a sua específica expressom no nosso país polo regime de 78, filho legítimo do franquismo.
Quando a normalizaçom do fascismo circula livremente a golpe de tik tok e Instagram polos telefones da juventude, quando se lhe lava a sua cara polos bem remunerados tertulianos dos programas de prime time nos canais televisivos, quando se banaliza polos pseudointeletuais da manipulaçom promovidos pola imprensa posfranquista, quando se trivializa polos representantes políticos de praticamente todo o arco parlamentar das Cortes madrilenas, que afirmam combater a extrema-direita mas apoiam e justificam as aventuras militaristas da OTAN e da UE, que nada fam para frear o genocídio do fascismo sionista contra o povo da Palestina, é necessário passar do antifascismo de whastApp e das inofensivas proclamas para a galeria, ao antifascismo militante e comprometido, à genuina unidade antifascista que nos ensinárom os nossos devanceiros que hoje homenageamos.
Ou reagimos ou as novas geraçons voltarám sofrer a escuridade, inevitável companheira de viagem da destruçom paulatina das mornas conquistas sociais e das tímidas liberdades que logramos recuperar mediante a luita organizada.
Nom podemos subestimar o fascismo doméstico. Olhar para o outro lado, permitir que eclossione sem oposiçom.
Aqui radica a outra razom da nossa fundaçom em março de 2018: alertar sobre o ressurgir do fascismo, do seu lavado de cara em amplos espaços políticos, institucionais e meios de comunicaçom, que confundem e enganam os cada vez maiores segmentos sociais excluidos e desfavorecidos polos responsáveis do processo de depauperaçom em curso, que golpea com maior intensidade os maiores e os mais novos.
Sem termos que solicitar autorizaçom a ninguém, reafirmamos  que a curva de Fontaboa é por antonomásia o lugar da Memória Antifascista no Val do Límia. Tal como a ponte do Boado, Güimil, o Poço do Inferno, o torreiro da igreja de Ferreiros e o Outeiro da Cela de Mugueimes.
Cinco anos consecutivos quebrando a amnésia imposta polos vencedores. Se em setembro de 2019, na curva de Fontaboa tinhamos identificados 25, agora já som 47! Estamos seguros que há mais. Necessitamos que se abram mas consciências, que mais mentes e coraçons optem por informar e contar o que sabem, por fornecer documentaçom e fotografias, por divulgar secretos e confesons transmitidas no seio das famílias. Passárom quase 90 anos, é necessário fazé-lo já, há que superar os preconceitos e os medos, os protagonistas daquela turbulenta etapa lamentavelmente já nom estám connosco.
Nom cessaremos em recuperar a sua memória até identificá-los todos! Até lograrmos a plena restituiçom da verdade, justiça, reparaçom e dignidade de todas as vítimas. Até lograrmos o seu reconhecimento e reabilitaçom, até organizarmos o desagravo a tantas décadas de esquecimento imposto polo franquismo e polo pósfranquismo. Nom pararemos até conseguí-lo!
Viva o Val do Límia antifascista!
Viva a Galiza antifascista!
Nom passarám!

Se el primero en comentar

Dejar un Comentario

Tu dirección de correo no será publicada.




 

Este sitio usa Akismet para reducir el spam. Aprende cómo se procesan los datos de tus comentarios.